segunda-feira, 31 de agosto de 2009

OS JOVENS E O MERCADO DE TRABALHO

Duas pesquisas, duas realidades. Mais de metade dos jovens brasileiros estão desempregados, mas ainda assim mostram otimismo; os jovens norte-americanos têm empregos à disposição, e claro, só podiam estar também otimistas.

Tivemos acesso a duas pesquisas, ambas com informações muito interessantes. Sabemos que as duas realidades que retratam são absolutamente incomparáveis, mas evidenciam tendências de mercado bastante esclarecedoras.

Para acompanhar os dados a seguir é preciso levar em consideração que os Estados Unidos são um país com economia estável, em condições de pleno emprego, auto-suficiência em petróleo, e renda per capita de US$ 31,059.00 (dados da ONU). Enquanto isso o Brasil, apesar da economia também estável, tem perto de 17% de taxa de desemprego, importa quase 30% do petróleo que consome e tem renda per capita de U$ 4,693.00 (dados da ONU).

No Brasil, apenas 36% dos jovens entre 15 e 24 anos têm emprego, outros 22% já trabalharam mas estão desempregados atualmente; na média, os jovens demoram 15 meses para conseguir o primeiro emprego ou uma nova ocupação, nas regiões metropolitanas. No total, 66% deles precisam trabalhar porque todo o seu ganho, ou parte dele, complementa a renda familiar.
Nos Estados Unidos, os empregos para quem está no ensino médio ou na faculdade estão em alta, tanto que em Nova York, por exemplo, como informou o jornalista Gilberto Dimenstein em entrevista à rádio CBN, não se conseguem candidatos para empregos de salva-vidas em meio período (R$ 160,00 por dia), porque a maioria dos estudantes já está trabalhando em outras ocupações que dão mais dinheiro.

A pesquisa do mercado brasileiro foi feita pela Fundação Perseu Abramo, em nove regiões metropolitanas do país, e publicada no dia 24 de maio no jornal Valor Econômico. A pesquisa no mercado norte-americano foi feita pelo site especializado em estudantes e recém-formados http://www.jobtrack.com/.
O jovem no Brasil
Vamos ver do lado brasileiro o que os números mostram em relação aos jovens no mercado de trabalho. A remuneração mensal - A remuneração é o principal item de satisfação dos jovens que trabalham: 17% deles dizem que a remuneração mensal é o fator número um de satisfação. A distribuição percentual, conforme a remuneração, é a seguinte:

27% - entre 1 e 2 salários mínimos 26% - até 1 salário mínimo 24% - entre 2 e 3 salários mínimos 19% - mais de 3 salários mínimos 3% - não responderam 1% - não é remunerado
O destino do salário57% - Parte do que ganham entra no orçamento familiar 30% - Ganham só para si 9% - Tudo o que ganham entram no orçamento familiar 3% - Não responderam
A jornada de trabalho34% - 8 horas 14% - 6 horas 13% - de 1 a 5 horas 13% - 11 horas ou mais 10% - 10 horas 9% - 9 horas 6% - 7 horas 2% - outras respostas/não responderam
O tempo atrás do emprego34% - até seis meses 25% - de seis meses a 1 ano 22% - mais de 2 anos 14% - de 1 ano até 2 anos 6% - não responderam

Jovens brasileiros com formação têm mais sucesso
Para os jovens que têm alguma ocupação ou profissão, a realidade é menos dura: embora somente 41% tenham sido absorvidos pelo mercado formal de trabalho, 82% do universo estão de alguma forma trabalhando e conseguindo remuneração mensal fixa ou variável. Segundo a pesquisa, para 79% dos 1.806 jovens entrevistados, apenas ter um emprego já é motivo de satisfação. Vejamos a distribuição dos entrevistados de acordo com o vínculo empregatício:
37% não têm carteira assinada 15% têm carteira assinada 15% trabalham por conta própria em ocupação temporária 5% estão em outras situações3% trabalham por conta própria em ocupação regular 2% são universitários e trabalham como autônomos 2% são funcionários públicos 2% trabalham para a própria família, sem remuneração fixa 1% é de estagiários

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

JUVENTUDE E EMPREGO

A análise da participação precoce dos jovens no mercado de trabalho revela o nível de desenvolvimento de um País. Nas economias mais desenvolvidas o número de crianças e adolescentes no mercado de trabalho é mínima. No Brasil, no entanto, o trabalho de jovens de menos idade é uma prática comum. Para o grupo de 15 a 17 anos, a taxa de atividade para os que vivem em famílias cuja renda mensal per capita situa-se em até 1/4 do salário mínimo está em torno de 53,7%. Um índice bastante alto mesmo quando comparada com a de outros países de menor renda per capita que o Brasil. A mais alta taxa de participação na força de trabalho, por região brasileira, esta no Sul, onde oito em cada dez jovens do sexo masculino, entre 15 e 19 anos trabalham. Em relação às mulheres, quanto mais urbanizada e desenvolvida for a região, mais elevado é o nível de sua participação. Assim, as taxas de atividade econômica masculina são geralmente mais elevadas nas zonas rurais do que nas áreas urbanas, enquanto que a situação é inversa na questão feminina.As regiões Sul e Sudeste apresentam os números mais elevados de moças de 15 a 19 anos de idade, aproximadamente metade delas, integrando a força de trabalho. (Adolescentes de Hoje, Pais do Amanhã: Brasil, 1991, Fundação Emílio Odebrecht).

São muitos os obstáculos enfrentados pelos jovens que estão no mercado de trabalho e pelos os que ainda estão tentando encontrar nele um lugar: más condições de trabalho, baixa remuneração, longa jornadas de trabalho, dificuldade de conciliar trabalho e escola, altas taxas de desemprego e desajuste entre o estudo recebido e as exigências do mercado. Em todos os ramos de atividade econômica em que se inserem os jovens de menos idade brasileiros, a grande maioria trabalha na condição de empregado, com exceção da agricultura, onde a relação predominante entre eles é o trabalho familiar sem remuneração. Do total de crianças e jovens que trabalham na agricultura, em 1989, 62,3% não recebem rendimento algum.

À medida em que os jovens passaram a obter cada vez mais empregos no setor de prestação de serviços, os empregadores puderam cada vez mais selecionar a partir de um grande número de candidatos como também reter ou negar benefícios. Em geral, os jovens trabalham sem carteira assinada e são vítimas de subemprego. O percentual dos que contribuem para o Instituto da Previdência, que lhes dá direito a benefícios de saúde e a receberem pagamentos da previdência social, caiu de 16%, em 1979, para 11%, em 1985. Apenas 34,6% da população de trabalhadores de 15 a 17 anos tem carteira assinada. Embora insuficiente, os jovens do Sudeste trabalham sob uma maior proteção da legislação trabalhista. Na Região Nordeste, por exemplo somente 9,5% deles, na mesma faixa etária, tem a carteira assinada pelo empregador. O número total de jovens, de 15 a 29 anos, que trabalham sem carteira assinada era, em 1990, 13.026.162. Uma quantidade maior do que aqueles que tem esse benefício - 12.128.588.

No mercado formal, apenas um em cada 25 empregos é preenchido por um jovem. Sendo que, entre 1960 e 1970, houve um declínio pronunciado desta participação. Dados do IBGE de 1989, revelam, ainda, que os jovens brasileiros trabalham muito e ganham pouco, com uma jornada de trabalho muito longa, mais de 40 horas semanais . Entre os adolescentes de 15 a 19 anos, apenas 8% dos rapazes e 13% das moças economicamente ativas trabalham menos de 30 horas semanais. Cerca de oito em cada 10 rapazes e sete em cada 10 moças dessa faixa etária trabalham 40 ou mais horas semanais. Apesar disso, os jovens ganham muito pouco, embora sua renda aumente ligeiramente com a idade. As moças são ainda pior remuneradas do que os rapazes. Em 1980, apenas 12% dos rapazes e 10% das moças, de 15 a 19 anos, ganhavam pelo menos um salário mínimo.

Embora, de forma geral, seja bastante insatisfatório o nível de instrução das crianças e adolescentes que trabalham, percebe-se uma diferenciação muito acentuada em seu grau de escolaridade, conforme o ramo de atividade em que se inserem. O comércio e a indústria de transformação são aqueles onde os jovens apresentam melhor nível de instrução. Isso se deve ao fato de se tratar de setores mais formalizados da economia que exigem maior nível de qualificação, além de empregarem quase exclusivamente jovens a partir dos 14 anos, idade mínima que a lei determina para o ingresso no mercado de trabalho. Já a agricultura é o ramo de atividade onde eles apresentam pior nível de instrução. Neste setor as crianças costumam se iniciar no mundo do trabalho muito cedo, geralmente ajudando a seus familiares, na empresa doméstica. Além do mais, a freqüência à escola no meio rural costuma ser muito inferior àquela no meio urbano.

Como seria de se esperar, os salários são mais baixos entre os adolescentes que têm os menores níveis de escolaridade e, melhoram progressivamente à medida em que aumenta o nível de escolaridade. Mais de 60% das moças de 15 a 19 anos que trabalham, com dois ou menos anos de escolaridade, ganham menos de 50% do salário mínimo mensal. Na faixa de 15 a 17 anos, os rendimentos ficam em torno de 1,4 salários mínimos. (Crianças & Adolescentes, Indicadores Sociais, Volumes I, II e III, Unicef e IBGE, 1989). São poucos os trabalhadores jovens que possuem um bom nível de estudo. A grande maioria das crianças e adolescentes, participantes do mercado formal no Brasil possuem nível de instrução até a 8ª série completa. O número dos que conseguem ter um diploma de nível de superior, que se caracteriza, pelo menos teoricamente, como uma forma de atingir ocupações de alto nível e agir como um elevador social, é muito pequeno.
Mesmos aqueles que conseguem superar todas as dificuldades e terminar uma faculdade, não tem garantia de empregos. No que se refere ao primeiro emprego após a graduação, verifica-se que o desvio ocupacional (ocupação pouco ou nada relacionada com o curso feito) acontece com frequência. Os motivos principais são: desenvolvimento de interesses diferentes, já que muitos conciliam trabalho e estudo durante o período da faculdade, desempenhando atividades diferentes das que estão estudando; falta de indicação por pessoas influentes que abra as portas do mercado de trabalho e a busca por uma outra atividade que permita maiores oportunidades de ascensão profissional. Os meios pelos quais estes jovens diplomados conseguem ingressar no mercado de trabalho são com mais frequência concurso ou seleção, seguido pelas indicações pessoais (parentes, amigos, professores e profissionais) e o contato direto com o empregador. Já os anúncios, agências e associações profissionais tem papel pouco relevante.
As diferenças entre a teoria da escola nos cursos de forma geral e a prática no mercado de trabalho acabam deixando a escolaridade com um papel mais modesto do que o treinamento em serviço ou estágio na preparação do jovem trabalhador. A procura por jovens com experiência profissional é outro fator que eleva a importância do treinamento em serviço, para obter e aperfeiçoar as habilidades e conhecimentos profissionais. Com isso, uma grande parcela da melhoria do sistema de ensino no país cabe às empresas. É por meio de parceria entre elas e as universidades que se está atualizando a formação acadêmica recebida nos cursos de nível superior. Esta parceria esta se tornando cada vez mais fundamental para a efetivação da qualidade total da formação profissional, garantindo trabalhadores que saibam conjugar aptidão técnica com especulação teórica. Nesse contexto, pode-se entender melhor a importância do estágio. É ele que traz o estudante para uma série de novos desafios a serem vencidos por meio da rearticulação da sua base teórica, sendo uma peça importante no programa de qualidade total da formação profissional. Prevalece entre os alunos do ensino médio a aspiração por cursos técnicos e profissionalizantes. Esses cursos figuram como uma das demandas apresentadas pelas camadas populares para tentar garantir sua inserção no mercado de trabalho. Tanto que, cálculos do IPEA informam que, o Senai, Senac e as escolas técnicas federais teriam, no máximo, lugares para apenas 14% da clientela em potencial (Gomes, Cândido Alberto:1990).

Uma face da realidade da vida moderna para muitos jovens brasileiros, e que não aparece nos dados dos censos e levantamentos, são os meninos de rua. A situação desses jovens é desalentadora. Alguns pesquisadores estimam que há cinco milhões de crianças e adolescentes desabrigados no Brasil. Com base em informações da PNAD de 1984, pode-se estimar mais precisamente que um mínimo de meio milhão de rapazes de áreas urbanas de 15 a 19 anos de idade vivem nas ruas. A maioria dos jovens que foram abandonados por seus pais ou que fugiram de suas famílias para evitarem maus tratos ou fome, trabalham para sobreviver. Embora algumas das atividades desses jovens desabrigados sejam, sem dúvida, criminosas, muitos milhares de jovens passam seus dias engraxando sapatos, vigiando ou lavando carros, vendendo cigarros ou chicletes, ou fazendo pequenos serviços ocasionais para qualquer um que lhes pague um biscate (Adolescentes de Hoje, Pais do Amanhã: Brasil, 1991, Fundação Emílio Odebrecht).